Deneville-lés-Chantelle
A cama alta forçava-o numa posição desconfortável se quisesse tocar o chão com os pés calçados em meia pra dias frios. Com o tronco voltado para a janela ele desfaz, delicadamente e com o semblante caído, um laço notoriamente antigo de uma sacolinha plástica. Uma foto impressa em preto e branco numa folha sulfite arregaça-lhe a alma em sorriso contido; uma mistura de resignação e saudade. Lembrança azeda sobretudo do descontrole de outrora, das noites iluminadas pelo Strobo da balada, das manhãs de domingo alimentadas por pastéis de feira e gente sem pecado.
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Outro ser habitava-o agora. Ele tem medo de voltar. Quer ser o agora sem perder a graça do antigo, mas o condado parece pequeno e agradável. “Esse apito cada um tinha um. A gente saía com eles pra fervê!”. O apito está amarrado num cordão embaraçado e sem fôlego; preso ao conformismo, ao confortável, ao cru.
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A sacolinha plástica revela-se um guardião enquanto é assaltada por um avesso que a deixa vazia. Espalha-se sobre a cama, a vida inteira em meia dúzia de objetos desconexos, conectados subliminarmente. Um ponto final a cada novo parágrafo questionava-o sobre outras escolhas. Outrossim, os caminhos interrogam comparando seus dias frios em praça pública ao exílio quixotesco. O retorno pra casa de ninguém. O voltar pra lugar algum. Na cama, feita colchão ortopédico, jaz a anistia rústica de um menino suave para, fora da sacolinha plástica de mercadinho provinciano, inspirar de medo, inércia e antolhos, um Homem.
música: These Are The Days (Jamie Cullum)
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Alex Pinheiro
interessante... qtas vidas não podem ser resumidas a poucas coisas e alguns pontos finais?
ResponderExcluirbeijo
NOSTALGICO E DESFIADOR...
ResponderExcluirQUEM SERÁ?
QUEM SEREI?
AIAIAI.........
PS:PRECISO FALAR SÉRIO COM VC SOBRE A TEMPORADA...FEEDEBACK...UI!
Como sempre, afastei-me muito tempo
ResponderExcluirDesta vez tenho uma desculpa mais convincente: o amor se me assomou à frente dos olhos, e seria deselegante não aceitar o seu sorvedouro.
Mas, vamos ao seu texto: nem preciso elogiá-lo; ele fala por si própria. Escusado é para mim repetir todos os meus elogios. Sintetizo-os numa palavra eloqüente: PARABÉNS!
Abraços
Vanildo
fazia mto tempo que ñ visita seu 'web espaço'! rs
ResponderExcluirvejo que os upgrades são frequentes, e o visual tá bem clean! adorando
enquanto ao texto, me lembra dias de limpeza no quarto..
asuhausuahuhsuahsuahs
vc sabe como é e o que eu quero dizer! rs
o blog tá massa
abrçs!
E o que são as escolhas? Ué, as escolhas fazem a própria vida...
ResponderExcluirBjos
Pra que voltar?
ResponderExcluirPq seguir os mesmos caminhos? Deixe o passado, faça a escolha que VOCÊ ache melhor...
...e não tenha medo do futuro, tente seguir pra "algum lugar" e não voltar a "lugar algum"!
Adoro quando o escritor se prende aos detalhes.
ResponderExcluirVidas simples de contar mas com muito por retratar.
ResponderExcluirParabéns.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
Jana:
ResponderExcluirPois então,,, que minha vida cabe no caixão comigo,,, rs
Anônimo:
Bem como a vida está refletida em nós...
Vanildo Danielski:
E cabe que nem precisa desculpar-se,,, Visita que qdo acontece me enche o ego, rs
Valeu!
B***:
Valeu!
Visita bem vinda e pra dizer das limpezas,,, saída estratégica pois que é por aí que entram os espirros,,, rs
.Ná.:
A própria vida...
Vanessa:
Méodéus! rs
Comentário tocante,,, e pq não filosófico!? :)
Gabriela Melo:
Muito booooom!!! Também curto pra caralho!
Bill Stein Husenbar:
Muito que cabe em pouco,,, pouco espaço...
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Agradecimento caloroso pelas idéias cultivadas nessa página! Valeu!
Não diria filosófico, e sim racional!
ResponderExcluirPq, é melhor seguir com sua razão, do que se perder no sentimento!
Há uma música que conta isto: "Enchi a tralha toda para um saco e, mesmo assim, sobrava fundo, tantas voltas dá a vida, tantas voltas dá o mundo!"
ResponderExcluirExcelente texto, Alex. Como sempre, camarada.
Abraço do tamanho do oceano.